GRAÇA A TEOLOGIA DE PAULO
A TEOLOGIA DA GRAÇA EM PAULO:
a Suficiência do Sacrifício de Cristo para a Salvação
Identifica-se, em pleno século XXI, que a graça tem sido
banalizada e interpretada de forma incoerente e equivocada.
Porquanto, alguns líderes religiosos mergulhados na ignorância
estabelecem regras, requisitos a mais como meio de salvação.
do Antigo Testamento sem o devido valor em Jesus Cristo; fazem as suas próprias “leis”, por não gostarem de
algo ou porque não é de costume, impondo aos cristãos como
normas.
A imposição da lei mosaica à cristãos, ou de quaisquer
requisitos a mais como complementação a obra de Cristo é uma
realidade no pluralismo religioso.
Identifica-se, em pleno século XXI, que a graça tem sido
banalizada e interpretada de forma incoerente e equivocada.
Aqueles que não têm um conhecimento sólido, bem
fundamentado da graça, esta dádiva divina, insistem em embasar a
sua salvação em seu comportamento e conduta de vida.
Contudo, se o comportamento e a obediência às regras dessem o direito de
ser salvo, por que Jesus morreu na cruz?! É inadmissível observar
cristãos, salvos em Cristo, se penitenciarem de falhas e erros
cometidos na caminhada cristã e se redimirem com boas obras ao
próximo ou se dedicarem mais ao serviço eclesiástico pensando
que dessa forma seus pecados serão perdoados.
A Palavra de Deus nos garante a salvação pela graça,
Vamos estudar que a fé em Cristo é unicamente o
meio pela qual o homem e a mulher podem ser justificados diante
de Deus, pelo fato de ter providenciado um processo de
justificação em Cristo para beneficiar gratuitamente aos que creem,
suprindo assim as exigências da sua justiça.
Por outro lado, uma parte tem a tendência de pender para
um lado liberal mais extremo na interpretação da graça.
Achando que a salvação gratuita lhe dá o direito de fazer o que bem
entender, envolvendo-se em um espírito de promiscuidade,
alimentando os desejos da carne e do pecado.
Outra parte tem a
percepção de que a sua natureza é pecaminosa e não têm o que
fazer, é perda de tempo lutar contra o pecado, pois sempre ele
dominará.
Uma interpretação exegética deve ser cautelosa nos
ensinamentos de Paulo, porque alguns textos, por exemplo, a carta
aos Romanos, a fé é sinônimo de obediência. A salvação em Cristo
é pela graça, mas é um dever do cristão progredir no processo de
santificação.
O respectivo artigo tem por finalidade examinar
como Paulo posicionou-se diante desta questão, quais foram os
seus ensinamentos e pensamentos.
A análise tem por objetivo de
apresentar que a fé em Cristo é o único meio de salvação e,
consequentemente uma obediência é requerida dos salvos em Cristo pela graça.
GRAÇA NA JUSTIÇA DE DEUS PARA A SALVAÇÃO
A graça de Deus em Paulo significa um dom gratuito e
imerecido, está estreitamente associada a justiça de Deus.
O apóstolo a menciona frequentemente em sua teologia, às vezes é
redundante em dizer palavras relacionadas a “justificação” e “graça”
(Rm 3.24; 5.15-17). A justiça de Deus foi revelada ao ser humano,
como uma forma de justificação pelo sacrifício de Cristo para a salvação
Justiça de Deus
A justiça de Deus é a sua revelação que ganha um clímax
em Jesus Cristo decorrente a revelação inerente da aliança a partir
de Abraão.
Através desta justiça Deus torna as pessoas pecadoras
justificadas pela sua graça pelo sacrifício de Jesus. A justiça de Deus tornou-se um tema fundamental na teologia de Paulo.
A justiça de Deus para Stott é a revelação de Deus que se dá a conhecer no
evangelho (Rm 1.17) ou independente da lei (3.21), contudo
ambos representam como o cumprimento das escrituras do Antigo Testamento. (STOTT, 2000, p.123)
O pensamento de justiça em Paulo é de natureza
totalmente hebraica.
No pensamento hebraico justiça é conceito mais relacional, como cumprimento de obrigações impostas ao
indivíduo pela relação da qual faz parte.
A justiça de Deus indica o
seu cumprimento das obrigações que se impôs com Israel através
da aliança, apesar da falta de Israel.
Denota a fidelidade de Deus
em salvar o seu povo.
A justiça de Deus em Romanos 3.21-26
reflete a sua paciência, demonstrando não só que ele é justo, mas
também justifica aquele que crê em Jesus (3.26).
Em suma, a justiça
de Deus é a sua providencia de Jesus como sacrifício pelo pecado.
(DUNN, 2008, p. 394, 395)
Observa-se que a justiça de Deus significa a ação de Deus
em favor do ser humano.
Ela não está associada a justiça
retribuidora que executa castigos ou penas, o sentido original não
contém a ideia de vingança, haja vista que a expressão é hebraica e
está relacionada ao Antigo Testamento.
A expressão está associada
a distribuição, a justiça de Deus é distribuidora como ação salvífica
para todos os que creem, porquanto todas as pessoas têm
necessidade dela para a justificação, porque todas as pessoas
pecaram tornando-se injustas perante Deus.
A justiça de Deus é vista por Stott da seguinte forma:
A justiça de Deus (ou que provém de) Deus é uma
combinação entre três elementos: o caráter justo de Deus, a sua iniciativa salvadora e a sua dádiva, que
consiste em conferir ao pecado a condição de justo
perante ele. Trata-se da sua justificação justa do
injusto, a maneira justa como ele justifica o injusto.
(STOTT, 2000, p. 124)
Observa-se que na percepção de Stott o caráter e a atividade
de Deus são um genitivo subjetivo (justiça como propriedade ou
atitude de Deus), aquela que foi apresentada no Antigo
Testamento ao povo de Israel; e a dádiva de Deus como um
genitivo objetivo (uma justiça que vem de Deus ou justiça como um
dom concedido por Deus), aqui Stott refere-se a justiça manifestada
na teologia de Paulo (Rm 3.21.22).
Por outro lado, Dunn acredita na justiça de Deus como
genitivo subjetivo, atitude de Deus, tanto no Antigo Testamento
quanto na teologia de Paulo: “Paulo considerou óbvio que a justiça
de Deus devia ser entendida como atividade de Deus que atrai os
indivíduos para a relação e os mantém nela, como força de Deus
para a salvação” (DUNN, 2008, p.398).
Nota-se que para Dunn a
justiça de Deus tem o sentido de tratar do pecado pelo sacrifício de
Jesus, e também no sentido que justifica o pecador.
Para Schnelle a justiça de Deus é multidimensional nos
textos paulinos, e também apresenta tanto o genitivo subjetivo
quanto o genitivo objetivo:
[...] Em Rm 3.21.22,
dikaiosu,nh qeou/ aparece duas
vezes, mas sempre com conotações diferentes.
Como termo de revelação deve ser lido o dikaiosu,nh qeou no
v. 21, pois, no evento Cristo, Deus manifestou-se como
aquele que justifica. [...]. No v. 22,
Paulo reflete sobre
dikaiosu,nh qeou sob um aspecto antropológico.
Na fé em Jesus Cristo é a forma de apropriação da justiça de
Deus [...].
Enquanto a justiça de Deus aparece no v. 21
como o poder universal de Deus, domina no v. 22 o
caráter da dádiva. (SCHNELLE, 2010, p. 403)
Sobre o genitivo subjetivo, percebe-se que se refere a justiça
sendo propriedade de Deus, que se manifestou universalmente
(Rm 3.21), e se interage com o genitivo objetivo, uma justiça de
Deus que é dada como apropriação do indivíduo (Rm 3.22).
Percebe-se que a interpretação de Schnelle é mais precisa,
porquanto a justiça de Deus é considerada condicionalmente
mútua.
Deus revelou a justiça como sua propriedade e sua atitude
em Jesus Cristo, e concedeu ao ser humano injusto a sua dádiva de
justiça pela fé em Jesus Cristo, uma forma de o homem e a mulher
se apropriar desta justiça.
Pode-se dizer que Deus através da sua justiça dá espontaneamente a salvação na ação ativa para as pessoas,
em contrapartida o homem e a mulher se apropriam desta salvação
pela fé na ação passiva, apenas a de receber pela graça de Deus.
Sacrifício de Cristo
Deus justifica gratuitamente os pecadores pela sua graça
baseada na morte e ressurreição de Jesus Cristo, o problema do
pecado é resolvido e a ira de Deus revela o seu amor e graça, na
qual através de Cristo os cristãos são salvos da ira de Deus.
Segundo Stott, Deus justifica o ímpio através do sacrifício de Jesus,
caso contrário estaria ferindo a sua justiça se considerasse o ser
humano culpado inocente.
O próprio Deus estabeleceu este
princípio ao dizer aos juízes israelitas que eles devem justificar os
íntegros e condenar os ímpios (Dt 25.1).
A justificação do ser
humano culpado só é possível pela cruz, sem ela a justificação do
injusto seria injusta, imoral e impossível.
(STOTT, 2000, p.127-128)
Sobre a justificação do homem culpado e da mulher
culpada, nota-se que só é possível por Jesus Cristo que morreu
pelos ímpios (Rm 5.6).
A sua morte sacrificial pelos pecadores
culpados e o seu derramamento de sangue proporcionou a
justificação justa de Deus, sem ferir a sua integridade, ao ser
humano injusto.
Esta ideia de que Cristo morreu pelos pecados do
ser humano, na percepção de Paulo, é apresentada por Cerfaux:
[...] Esta fórmula primitiva deriva em última análise do
capítulo 53 de Isaias.
Paulo retoma os próprios termos do profeta: “foi entregue à morte por causa dos nossos
pecados” (Rm 4.25). “Cristo morreu por nós” é só uma
variante, que se explica como tendo por base os mesmos
textos.
(CERFAUX, 2012, p. 109)
Observa-se que os textos relacionados à ideia acima
comumente expressam a morte de Cristo por todas as pessoas
ímpias (1 Ts 5.10; 1 Cor 8.11; 2 Cor 5.14; Rm 5.6, 8; 14.15).
Percebe-se que as formulas teológicas demonstram a morte de Cristo como o fator essencial da mudança do estado do ser
humano de inimizade com Deus, na qual o pecado aparece como
Teologia e Espiritualidade •
vol. 5 • no 09 • Curitiba • Jun/2018 • p. 19-4227
um estado de gênero oposto a Deus.
A suficiência do sacrifício de
Cristo para a salvação proporciona ao ser humano justificação pela
graça.
Pode-se dizer que as pessoas pela fé em Cristo alcançam a
salvação pela suficiência de Cristo, sendo assim, não estão mais sob a ira de Deus no presente, e livre da ira de Deus no futuro escatológico, e também não estão sob o estado de pecado, falando se da essência.
De acordo com Dunn as pessoas culpadas se
tornam justas e são consideradas justas diante da justiça de Deus.
(DUNN, 2008, p. 398)

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